28 de ago. de 2013

WALTER ARAÚJO: OS ESCRITOS DE OMAR “BABÁ” TORRES

Omar Dias Torres é das bandas de Curaçá. Melhor dizendo, é curaçaense de boa cepa. Nasceu lá, filho de família ilustre, cresceu nos becos curaçaenses, banhando-se nas águas do São Francisco. O pai Durval Torres era do tempo que vergonha na cara e palavra empenhada valiam mais que qualquer documento assinado. Um dos construtores da história do município, as estradas empoeiradas da caatinga ainda guardam o eco de sua voz. Era profundo conhecedor do sertão.

              A façanha maior que Durval fez, dentre muitas, foi constituir uma família numerosa: filhos intelectuais, políticos, educadores, cantor, artista.

              Todavia, hoje me ocupo de “Babá”, que há anos vem escrevendo textos esparsos, sem nenhuma intenção de publicá-los, o que é modéstia demais. Conheço alguns, tenho outros. O arquivo do homem é valioso, escreve bem, tem raciocínio de valor apreciável e escrita escorreita e apurada.

              Quem cuida da cultura de Curaçá deve se preocupar com os escritos de “Babá”. Reunir, publicar, torná-los conhecidos.

               Aliás, Curaçá que é terra de escritores como João Mattos, Elson Torres de Aquino, Esmeraldo Lopes, Maria Carlota de Possídio Coelho, Herval Francisco Félix, Roberval Dias Torres, Urias de Souza Feitosa, Maurízio Roberto Bim Moreira Fernandes e tantos outros de diferentes gerações, deve incluir “Babá” neste rol de nossa intelligentziacuraçaense. Graça Aranha, autor de Canaã, não tinha nenhum livro escrito quando participou da fundação da Academia Brasileira de Letras. Escreveu-os depois, o que significa que uma coisa não exclui a outra.  “Babá” é homem para enriquecer qualquer academia de letras, em qualquer lugar.

              Uma de suas qualidades é a humildade; outra, a curiosidade enciclopédica que tem com as coisas do saber. Militou ou milita em todas as frentes nas quais seja possível continuar sonhando com um Brasil melhor para todos. Há anos mantém-se esperançoso e irrequieto. E ainda tem tempo para escrever.      

              Em 1977, quando morava no Rio de Janeiro – e já se vão, por aí, algumas décadas – “Babá” escreveu uma carta para o pai, em versos, que deverá constar nos compêndios históricos de Curaçá, se é que ainda não consta. E se consta, curvo-me diante de mais um deslize de minha ignorância.

                Os escritos de “Babá” têm cheiro de terra e terra curaçaense. Quando longe de Curaçá, escreveu saudoso:

              “Como volta a Asa Branca
                Vou voltar também praí
                 Pois meu lugar, tenho certeza
                  É no sertão que nasci
                 Vivendo da esperança
                  De ver a chuva cair” 


              Dá gosto ler os escritos de “Babá”, sentir a imaginação trilhar os caminhos que nos levam às nossas tradições e ao aconchego de nossas raízes.


WALTER ARAÚJO COSTA 
Curaçaense, advogado,escritor e jornalista.

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